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Analfabetismo cai no País, mas ainda atinge 13 milhões

Da Agência Brasil |

Autor: Vinícius Lisboa |

A taxa de analfabetismo das pessoas acima de 15 anos no Brasil voltou a cair em 2013. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), o país tinha cerca de 13 milhões de analfabetos nesta faixa etária no ano passado, o que corresponde a 8,3% da população. O resultado é 0,4 ponto percentual abaixo do registrado em 2012 (8,7%). A taxa de analfabetismo funcional também caiu, de 18,3% para 17,8%. A Pnad foi divulgada hoje (18) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

O resultado de 2012 manteve-se praticamente estável, com alta de 0,1 ponto percentual em relação a 2011, quando foi registrado 8,6% de analfabetos. Desde 2004, ano em que a abrangência da Pnad incluiu pela primeira vez as populações rurais de toda a Região Norte, houve queda de 3,2 pontos percentuais, de 11,5% para 8,3%. Em números absolutos, de 2012 para 2013 houve redução de 297,7 mil analfabetos no país.

De acordo com o IBGE, a maioria de analfabetos era mulheres, com 50,6%, realidade que se repete nas regiões Sudeste (56,2%), Sul (55,6%) e Centro-Oeste (50,5%). No Norte e no Nordeste, os homens representam a maioria dos analfabetos, com 53,2% e 52,1%. Apesar disso, a taxa de analfabetismo é superior entre os homens, com 8,6% contra 8,1% da mulheres. Na divisão por região e sexo, os homens nordestinos têm a taxa mais alta, de 18,2%, enquanto as mulheres da Região Sul têm a menor, de 3,9%.

Ao considerar a idade, a pesquisa mostra que pessoas com mais de 60 anos são mais frequentemente analfabetas que as mais jovens. Entre os brasileiros com menos de 30 anos, a taxa de analfabetismo em 2013 chegou a 3%, enquanto na população com mais de 60, ela foi de 23,9% da população. Entre quem tinha de 40 a 59 anos, o analfabetismo atingia 9,2%.

Todos os grupos etários tiveram redução da taxa entre 2012 e 2013, e, com uma queda de 0,2 ponto percentual, a menor porcentagem registrada foi a dos jovens entre 15 e 19 anos, com 1%. Para Maria Lucia Vieira, gerente da pesquisa, a diferença na taxa de analfabetismo entre as idades se deve a uma dificuldade maior de atingir pessoas mais velhas com programas de alfabetização.

Regionalmente, o Nordeste continua a ser a região com a maior taxa de analfabetismo entre os maiores de 15 anos, mas foi também o local onde ela mais caiu, de 17,4% em 2012 para 16,6% em 2013. De acordo com a Pnad, mais da metade (53,6%) dos analfabetos do Brasil estão nos estados nordestinos.

Todas as regiões tiveram queda, e a segunda maior foi registrada na Região Norte, de 10% para 9,5%, seguida pelo Centro-Oeste, de 6,7% para 6,5% e pelo Sul, de 4,4% para 4,2%. O Sudeste teve a menor redução da taxa, de 4,8% para 4,7% da população. Como é a mais populosa, a Região Sudeste concentra 24,2% dos analfabetos, apesar de ter a segunda menor taxa.

O analfabetismo funcional também caiu em todas as regiões brasileiras, e acompanha o analfabetismo quando enumeradas as regiões em que ele é mais incidente. No Nordeste, a taxa caiu de 28,4% para 27,2% e ainda é a maior do país. O Norte vem em seguida, com 21,6%, 0,3 ponto percentual a menos que no ano passado. No Centro-Oeste, a situação ficou praticamente estável, com queda de 0,1%, de 16,5% para 16,4%.

Na Região Sul, o analfabetismo funcional foi maior do que no Sudeste em 2013, com uma diferença de 13,6% para 12,9%. As duas regiões tiveram queda na taxa, já que, em 2012, apresentavam percentuais de 13,7% e 13,2% respectivamente.

Fonte: <http://migre.me/mnj6h>, em 18 de setembro de 2014.

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é tratada de maneira míope e desumana

Artigo do UOL Educação |

Autor: Daniel Cara |

Sancionado recentemente, o Plano Nacional de Educação (PNE) tem sido debatido a partir de muitas óticas, que evidenciam diferentes prioridades. Isso é natural. O texto é extenso e os desafios educacionais brasileiros estão acumulados há anos. Contudo, poucos analistas perceberam que as metas mais desafiantes tratam de uma questão complexa, quase esquecida e urgente: a Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Após ser um tema central entre as décadas de 1950 e 1980, a EJA tornou-se uma questão invisível no Brasil. Hoje ela reflete, como nenhuma outra, a incapacidade do país em consagrar o direito à educação. E pior: desnuda o descomedimento do Estado Brasileiro e de setores da sociedade com a questão social.

De modo direto, três metas do PNE tratam da EJA. São as metas 8 (equalização dos anos de estudo da população entre 15 e 29 anos), 9 (universalização da alfabetização e redução do analfabetismo funcional) e 10 (articulação da EJA com a educação profissional).

Apenas a universalização da alfabetização de jovens e adultos exige a criação de 13,2 milhões de matrículas até 2024, último ano de vigência do PNE. Para se ter uma ideia, todas as outras etapas e modalidades da educação básica juntas, somadas ao ensino superior, exigirão 8,6 milhões de novas vagas públicas no mesmo período. Segundo a Unesco, o Brasil é o oitavo país com o maior número de analfabetos no mundo, sendo o primeiro na América Latina.

No entanto, como a conclusão da educação básica é um direito de todas as cidadãs e de todos os cidadãos, a demanda total da EJA é de 87 milhões de jovens e adultos brasileiros que não completaram seus estudos, segundo dados disponibilizados por Roberto Catelli Jr., coordenador do Programa de Educação de Jovens e Adultos da ONG Ação Educativa. Não é possível resolver esse enorme deficit em uma década, nem o PNE pretende fazer isso, mas esse documento legal – ao menos – evidencia a prioridade da questão e decide dar passos firmes rumo à sua resolução.

EJA: ENTRE A PERVERSIDADE E A IGNORÂNCIA

O tema da EJA é espinhoso. Os governantes e a opinião pública preferem não abordá-lo, evitando tornar público o desrespeito ao direito à educação de dezenas de milhões de brasileiros. Assim, ao invés de pautar e enfrentar o problema, muitos governos e grande parte da sociedade brasileira limitam-se a dizer que é “difícil e oneroso” empreender esforços para matricular jovens e adultos. Mais complexo ainda é mantê-los na escola ou em ações de educação popular.

Mais grave é o fato de que, em muitos círculos do debate público e educacional, a EJA é tratada como um problema menor, a ser resolvido naturalmente pelo envelhecimento da população. Basicamente, alguns acreditam e defendem que em algumas décadas os analfabetos vão morrer e é preciso centrar esforços na educação de crianças e adolescentes.

Trata-se de um raciocínio tão perverso e indigno quanto ignorante. Em primeiro lugar, reduz a EJA à alfabetização do jovem e adulto, desconsiderando a perspectiva da educação ao longo da vida, dedicada centralmente à conclusão da educação básica. Em segundo lugar, demonstra desconhecimento sobre a realidade dos sistemas públicos de ensino.

No Brasil atual, parcela significativa da população inicia o ensino fundamental, mas cerca de metade dos que ingressam nele não concluem o ensino médio na idade esperada. Em outras palavras, a EJA permanece sendo um caminho para a conclusão da educação básica. E essa realidade precisa ser abordada com reflexão, franqueza e recursos.

O DESCOMEDIMENTO FRENTE À EJA

A expressão mais grave desse pragmatismo míope e desumano contra a urgência da EJA está entre aqueles que insistem em afirmar que o PNE trata de pautas ultrapassadas, pois se dedica a enfrentar necessidades e questões educacionais dos séculos 19 ou 20. A pergunta que fica é: o que fazer se tais questões, infelizmente, remanescem no Brasil do século 21? A omissão, certamente, não é uma resposta aceitável.

Alguns, sendo menos hipócritas – mas não menos perversos –, não se envergonham de tomar como exemplo de sua crítica ao PNE o tamanho da demanda da EJA no novo plano. Em outras palavras, dizem que garantir o direito à educação básica de milhões de jovens e adultos não é “inteligente” ou “estratégico”. O Brasil teria “outras prioridades”.

O descomedimento contemporâneo, problematizado por T. Todorov no ensaio “Os inimigos íntimos da democracia”, é desnudado no Brasil no caso da EJA. Aqui muitos entendem que parte significativa da população brasileira é um insumo econômico, sendo tratada como simples mão de obra. A cidadania e a humanidade, portanto, ficam prejudicadas ou são completamente desconsideradas.

Quando muito, a EJA interessa na medida em que forma profissionais para um mercado de trabalho em que o nível de emprego é alto, mas a qualidade das ocupações é muito baixa. Ainda que isso seja muito melhor do que o desemprego, permanece sendo insuficiente tanto para o presente quanto para o futuro das pessoas. A autonomia dos homens e das mulheres fica gravemente prejudicada quando o direito à educação não é assegurado. E a autonomia é um atributo básico da vida.

Infelizmente, há muita gente no Brasil que fala sobre políticas educacionais sem nada saber sobre elas. São pessoas que falham desde o pressuposto. Não conseguem encarar a educação como um direito e as políticas públicas como um meio para alcançá-lo e universalizá-lo.

Isso ocorre porque essas pessoas não aceitam como seu igual o jovem e o adulto analfabeto absoluto ou funcional. Insistem na ideia de que “não é preciso gastar tanto dinheiro com “essa gente” que não vai gerar benefícios econômicos concretos ou imediatos para o país…”.

Escrever tudo isso assim, de modo tão direto, é tratado em algumas rodas como deselegância e afronta. Para alguns, é mais palatável afirmar que milhões de brasileiros deixarão de ser analfabetos simplesmente porque vão envelhecer e, consequentemente, morrer. Há até quem veja racionalidade nesse descomedimento inaceitável. Alguns fazem uso de falaciosas “evidências empíricas”, tentando atribuir uma estrutura de racionalidade à brutalidade.

Analisando as opções postas, considero preferível ser cru e deselegante. Em muitos momentos, uma suposta falta de bons modos é um ato seminal de cidadania – e também de humanidade.

Daniel Cara é Coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, bacharel em ciências sociais e mestre em ciência política pela USP.

Fonte: <http://migre.me/mnfDV>, 26 de agosto de 2014.

Dez turmas de EJA são fechadas no país por dia

De Elisa Meirelles | Nova Escola |

Entre 2009 e 2013, 14.581 turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) foram desativadas no Brasil, segundo o Censo Escolar. O dado equivale a dez salas fechadas por dia e a uma queda de 9% na oferta existente. Alarmantes, os números são reflexo do círculo vicioso em que a modalidade ingressou nos últimos anos. De um lado, gestores públicos reclamam dos altos índices de evasão e afirmam ser muito custoso manter turmas pequenas. De outro, alunos se deparam com cada vez menos opções e desistem.

Os maiores problemas se concentram nas regiões Sul e Sudeste – ambas fecharam 21% das turmas de EJA em quatro anos. Em seguida, está o Centro-Oeste, com 7%, e o Nordeste, com 3%. A exceção é o Norte, que, em vez de diminuir, aumentou as salas em 12%.

Não há como dizer que a redução no número de salas é resultado de uma queda na demanda. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2012, há no Brasil 12,7 milhões de analfabetos, entre a população de 25 anos ou mais (equivalente a 11%). Além deles, existe um grande contingente de brasileiros que não conseguiu concluir o Ensino Fundamental e precisa de opções para voltar à escola.

A resposta, então, está em uma questão de gestão de recursos. Como 70% dos alunos que ingressam na EJA não conseguem concluir os estudos, as redes optam pela nucleação: as salas pequenas de diferentes escolas são extintas e a demanda se concentra em uma única unidade, que recebe todos os estudantes de bairros próximos.

A medida é vista como negativa por especialistas. Um dos problemas é a distância entre a escola e a casa do aluno. A maioria trabalha o dia todo e depende do transporte público para se locomover. Se as aulas são transferidas para uma instituição de ensino mais distante, a pessoa nem sempre consegue chegar a tempo ou arcar com os custos do deslocamento. Soma-se a isso a desmotivação que interrupções e mudanças causam nesse aluno, geralmente alguém que nunca conseguiu estudar ou que é marcado pelo fracasso, por ter ingressado na escola e desistido dela. Há ainda o agravante de a nucleação lotar as poucas salas disponíveis, dificultando o trabalho docente.

Fonte: <http://migre.me/nddfq>, junho/julho 2014.